image-blog-email-BLOG-01 O surfista mesmo que de forma inconsciente é um cara que valoriza muito a liberdade, o contato com a natureza e a livre expressão do seu corpo e mente. Independente de qualquer posição política, classe social ou idade, o simples fato de se praticar um esporte envolto por água salgada, abraçado pela natureza e contemplando o horizonte enquanto se espera a próxima série, nos torna seres mais meditativos e ligados a valores mais lúdicos e fluídos do que a maior parte de nossos amigos urbanos e sedentários.

A busca por novas ondas e experiências em lugares inóspitos revela muito de nossa personalidade aventureira e “easy going”. O “sentir” e o “experimentar” valem muito mais do que o “acumular” e, mesmo que haja muita diferença dentro das “subtribos” do Surf, todos nós temos esse sonho desbravador e de liberdade intrínseco e enraizado em nossas personalidades.

A raiz de tudo isso está nos primeiros praticantes do Surf, que acreditavam que a prática era um culto ao espírito do mar e que ao praticar o esporte eles se libertavam das energias negativas. Mais tarde, nos anos 60, durante a contracultura, o Surf virou sinônimo de uma nova forma de expressão, pacífica, livre e totalmente dissociada da sociedade conservadora e careta. Ser feliz valia mais do que o sucesso financeiro. Assim nossa cultura se desenvolveu e como partes integrantes disso tudo, absorvemos essa cultura que passou a ser grande parte da maneira que encaramos o mundo e do nosso estilo de vida.

Hoje, durante essa quarentena, que já dura mais do que 40 dias, estamos confinados, reprimidos, aprisionados e fechados. A nossa parte lúdica, livre e alegre, desenvolvida e cultuada, desde que encaramos nossas primeiras ondas, está agora abafada, triste e cerceada pelas restrições impostas a todos pela pandemia. Sofremos mais porque nosso “self”, ou seja, nossa individualidade, ou melhor ainda, a nossa essência enquanto surfistas está castrada.

As muitas vidas que foram perdidas, os empregos que deixaram de existir, os entes queridos e grandes amigos que pararam de se encontrar, e a recessão monstruosa que se aproxima, são todos os ônus enormes que toda a sociedade enfrenta e enfrentará por um bom tempo ainda. Nós surfistas, além de tudo isso, não podemos ser o que somos. Tivemos nossas almas aprisionadas provisoriamente, por isso, sofremos mais.

Caio Siqueira

Ps: Esse texto não nada a ver com política, nem muito menos entra no mérito do que se deve ou não fazer em um momento crítico como esse que de certeza temos apenas as incertezas. É apenas uma reflexão sobre o impacto da pandemia na essência dos surfistas.

 Aloha