Desrespeito e falta de educação no surf

Um conto sobre Aloha, educação e Cabral.

Estava eu surfando em um domingo qualquer, em um marzinho preguiçoso, água meio quente, ondas de meio metro com séries demoradas e por incrível que pareça, com pouquíssimos surfistas na água.

Claro que as condições estavam longe de serem ideais do ponto de vista qualidade das ondas, mas o ambiente todo era ótimo. Paisagem bonita, tranquilidade, ondas eventuais porém manobráveis, e arrisco até a dizer, que o espírito Aloha de camaradagem e compaixão estivesse presente entre os poucos surfistas que dividiam o outside.

No final da queda, praticamente satisfeito e de bem com a vida, esperava tranquilamente há pelo menos uns 15 minutos minha “saidera” em um local onde identifiquei uma vala bem demorada, sempre para a esquerda, que vinha um pouco mais para fora e abrindo bem. Nesse momento, nesse local, não havia ninguém ao meu lado, os poucos surfistas buscavam outras valas mais no inside e relativamente longe dali.

Nesse momento, entraram no mar dois surfistas com gestos agitados e falando alto, destoando um pouco da vibe do ambiente, mas até aí, tudo bem, fiquei na minha. Posicionaram-se perto de mim, mas ficaram por ali pegando outras valinhas.

Passaram-se mais uns 10 minutos, até que lá no horizonte despontou uma série bem definida. Batendo o olho de relance, eu já sabia que iria encaixar a vala que eu esperava. Um dos 2 surfistas que tinham entrado há pouco, teve a mesma percepção que eu, mas como estava muito mal posicionado, começou a remar freneticamente na minha direção como se um tubarão estivesse perseguindo ele.

Um pouco antes de passar na minha frente, percebi que o “cara de pau” daria a famosa “voltinha” em mim, e já avisei, “ohh eu!”. Não ouviu, ou fingiu que não ouviu. Como eu estava no pico da onda, apenas remei para pegá-la, e ingenuamente pensei que o mal educado quando me visse remando para pegar a onda desistiria da sua tentativa de assalta-la de mim. Doce ilusão.

Dropei na frente dele, sem olhar para o descarado, cavei e somente quando estava começando o movimento para executar a rasgada de backside, percebo que o indivíduo não só não tinha desistido, como estava bem embaixo de mim, na onda. Para evitar a colisão, interrompi a manobra no meio e sai por cima da onda, da minha onda, da melhor onda do dia, da onda que eu esperava pacientemente para sair do mar totalmente satisfeito.

Fiquei extremamente “emputecido”, o sangue subiu na cabeça não por perder a onda, mas pela falta de respeito e de educação do “espertinho”. Parei onde eu estava, e observei ele dar 3 manobras até o inside, e respirei profundamente diversas vezes para tentar manter a compostura.

Quando ele estava remando de volta ao outside, o amigo dele, sacando toda a cena, remou para perto de mim, talvez para me intimidar. Esperei ele passar por mim, e perguntei calmamente: “você acha certo o que você fez?” A resposta dele totalmente esdrúxula e sem nexo, argumentava que ele que dropou no pico e misturava frases sem sentido, como “não sou surfista de um dia só” e outras coisas desconexas. Fiquei com a clara sensação de que além da falta de educação e desrespeito, o meliante achava que ele estava certo, que por algum motivo incompreensível, ele tinha direito a fazer o que quisesse, sem respeitar nada e a ninguém.

Claro que essa atitude me deixou ainda mais indignado, mas a essa altura, só me restavam 2 opções: partir pra cima do cara ou ignorar minha raiva e remar para longe evitando a confusão.

Respirei fundo novamente e pensei: esse babaca não vai estragar meu domingo. Remei para o lado, peguei uma onda qualquer e voltei para casa. Descansei, almocei bem, e no fim de tarde voltei novamente para a praia para fazer um fim de tarde.

As ondas ainda estavam por ali, talvez um pouco melhores. A natureza parecia ainda mais bela, adornada pela luz indireta e mais alaranjada característica do fim de tarde. Tudo voltara ao normal

Nem sinal do petulante mal educado.