Pranchas para água doce

Não houve um padrão no que se refere às pranchas usadas durante o evento do CT realizado no Rancho do Slater em água doce. Muitos surfistas usaram exatamente o mesmo modelo, tamanho e medidas que usariam em uma onda com Trestles, por exemplo. Outros usaram o mesmo modelo com ligeiras alterações nas medidas, enquanto que outro grupo resolveu usar os modelos e medidas que costumam usar, mas em pranchas feitas em Eps+Epoxi das diferentes tecnologias disponíveis no mercado.

Poucos fizeram mudanças mais radicais, como por exemplo Owen Wright que costuma usar pranchas 6´3 mas se adaptou incrivelmente bem com as pranchas do seu amigo Matt Wilkinson. Para a esquerda usou uma prancha 5´11 mais larga que de costume de um modelo novo da DHD chamado Wilko13. Para a direita usou uma prancha do mesmo modelo, porém 6´0.

Prancha água para água doce Owen Wright

As mudanças da maioria dos surfistas parecem sutis se pensarmos com a cabeça do free surfer que gosta de testar pranchas de diferentes tipos e shapes. Entretanto, quando se pensa em uma etapa do WCT que qualquer mudança sensível pode afetar muito a performance do surfista, algumas mudanças feitas são no mínimo interessantes. Não me lembro de ter visto nenhuma outra etapa do WCT com tantas pranchas feitas em EPS e Epoxi, sendo usadas por surfistas que normalmente não optam por competir com pranchas com essa tecnologia.

Há um racional por trás disso. A água doce proporciona menor flutuação do que a salgada, então pranchas em EPS/Epoxi que flutuam mais acabam ficando mais interessantes para os profissionais do que são normalmente em água salgada. Por isso muitos surfistas testaram seus modelos em EPS/Epoxi e alguns deles se adaptaram bem e acabaram usando essas pranchas durante a competição.

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Mas a equação por trás da prancha ideal para o rancho do Slater não é tão simples. Um fator interessante a ser considerado é que a prancha para ser usada lá não precisa ter remada. Não há disputa de remada e a entrada na onda, assim como o drop, é super fácil. Além disso, a onda no Rancho do Slater é muito rápida e muito cavada. Todos esses aspectos privilegiam pranchas mais finas e estreitas que sejam ágeis e mudem de direção rapidamente. Entretanto, não se pode abusar dessas medidas reduzidas porque como disse no outro parágrafo a água doce poderia deixar essas pranchas muito afundadas.

Prancha para água doce do Mestre Slater:

Acho que esse foi o racional do Kelly Slater: uma prancha fina e estreita para onda rápida e que empurra, mas com um material que flutua mais (Eps/Epoxi). No caso do Slater, ele usou uma prancha com um rocker (curvatura de bico) bem acentuado, o que na minha opinião se encaixa perfeitamente com uma onda super cavada e pequena como a do Rancho. Pranchas assim normalmente remam mal porque a curvatura ocasiona uma resistência grande, mas como disse mais a cima no texto, não há essa necessidade no Rancho. A 3ª colocação prova que sua escolha foi bem assertiva.

Prancha para água doce Kelly Slater

Julian Wilson proporcionou bons momentos no Rancho do Slater e arrancou 8,8 em sua melhor nota com um aéreo muito alto. Ele foi outro surfista que usou uma prancha diferente da sua “normal” durante o campeonato. Ele costuma usar o modelo Air 17 da JS com 18 ¾ de largura. Para essa etapa ele usou uma Air 17X tamanho 5´11 que é um modelo similar ao que ele usa porém com algumas características próprias para ondas menores, como uma largura maior, de 19 1/8, e menos curvatura (Rocker) .  E ainda usou essa prancha com a tecnologia HyFy que é a construção de Epoxi + Eps da JS.

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De maneira antagônica a Julian Wilson, o Kanoa Igarashi que foi outro destaque no rancho do Slater usou um modelo da Sharp Eye chamado Ok que é um modelo feito para um Surf progressivo de aéreos com o outline mais esticado. É um modelo para ondas boas com um rocker de entrada acentuado que encaixa bem em ondas tubulares. Ele usou essa prancha em PU.

Já Medina, que dominou o Rancho, adotou uma estratégia interessante em relação ao seu equipamento. Ele que usa na grande maioria dos eventos do WCT o modelo DFK do Cabianca, resolveu usar esse modelo de tamanho 5´11 também para as direitas, entretanto, para as esquerdas, ele usou o modelo The Medina que é um modelo para ondas piores (menos Rocker e um pouco mais de área), o que faz muito sentido, uma vez que a esquerda do rancho do Slater é mais cheia e menos rápida que a direita.

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Cada surfista teve uma leitura do que seria o melhor equipamento para essas ondas e eu acho que além do formato diferenciado e a pressão que o Rancho acaba exercendo aos Surfistas, outro motivo para alguns surfistas não terem se encontrado lá foi não ter se acertado com o seu equipamento.

São muitas variáveis novas, como: o fato da água doce flutuar menos; não ter tido tempo para treino durante a competição; não haver a necessidade de remada para entrar na onda; a onda ser extremamente rápida com tubos e manobras progressivas para a direita, e mais gorda que permite cravar um pouco mais a borda para a esquerda; entre outros.

Difícil combinar todas essas variáveis e chegar a uma prancha mágica teórica. Por isso, na minha opinião, quem conseguiu treinar mais na onda pôde ter um feedback melhor e fazer alguns ajustes no que funciona ou não na onda do rancho, além da confiança para “performar” melhor sob pressão. Ainda há muito o que se aprender em termos de equipamento para a onda do slater e outras ondas artificiais perfeitas, mas provavelmente quem conseguir treinar mais nessas ondas durante a temporada, vai ter uma bela vantagem na competição!

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