Surftrip como ela é!

Sempre que algum amigo conta ou lemos algum artigo sobre uma Surftrip, ouvimos ou lemos o relato das boas ondas, dos bons momentos e algumas vezes dos perrengues que após a Surftrip parecem mais engraçados do que foram. É natural, uma vez que o distanciamento do tempo e o próprio funcionamento do nosso cérebro afasta as dificuldades reais e seleciona as boas memórias da Surftrip. Além, é claro, da questão do Ego- contar vantagem, mesmo que inconsciente- no caso dos amigos, e para a história da Trip ficar mais atraente no caso dos artigos.

Eu resolvi contar o relato da minha Surftrip como ela é, ou melhor como ela está sendo. Por isso, escrevo diretamente do quarto do meu Hotel diretamente de Elands, na África do Sul, no segundo dia da trip e escreverei algumas outras vezes quando houver mais histórias excelentes, boas, médias, ruins ou péssimas da viagem.

Contextualizando: a viagem é para a África do Sul e o roteiro é bem flexível. Resolvi deixar tudo em aberto para poder ter a liberdade de ir atrás das ondas onde elas estiverem. Para ter mais mobilidade, eu aluguei um carro na Cidade do Cabo, de onde consigo partir para diferentes picos de Surf.

A vantagem da liberdade do roteiro livre leva também a um nível de ansiedade muito maior. Explico: em uma viagem que se está viajando sozinho – passarei boa parte sozinho e depois encontro com meus pais, a incerteza sobre tudo acaba tendo um peso maior. Estudei diversos picos e todo tipo de previsão das ondas em diferentes sites, entretanto, uma coisa é a teoria, outra coisa bem diferente é como cada pico reage de verdade para cada tipo de Swell e vento.

A água gelada, cerca de 14 C aqui na região ao norte da cidade do Cabo, também me deixou meio inseguro. Na teoria surfei com essa temperatura no Chile, entretanto, apesar dos sites especializados informarem que essa é a temperatura média por aqui, sempre bate aquela dúvida: será mesmo que estará assim ou pode estar mais frio e meu wetsuit e acessórios não vão dar conta?

Deixando de lado, ou melhor dizendo, passando por cima de tais dúvidas e pensamentos, cheguei a cidade do Cabo ontem debaixo de uma chuva que é coisa super rara por aqui. A Cidade do Cabo enfrenta uma das maiores secas da sua história. Dirigir na mão inglesa (contrária a nossa) debaixo de chuva em uma cidade que você não conhece não é das atividades mais relaxantes.  Mas o Waze após 3 horas de estrada me trouxe de maneira segura até meu destino atual que é Elands. Cheguei aqui as 19:30hs.

Surftrip real

trip-fred-vilarejo

Não chega a ser uma cidade, diria que é um povoado com algumas casas simples e outras de veraneio. Como no Brasil, aqui é outono, e as temperaturas variam de cerca de 13 graus a noite a uns 22 graus no Sol durante o dia. Só tem um Hotel que não é bom nem ruim, e a comida idem. Não é caro nem barato e o local por ser bem seco quase não tem vegetação. Me lembrou bastante o visual de Chicama.

Hoje acordei umas 7:30hs da manhã e fui fazer um reconhecimento do local. Andei uns 20 minutos a pé até o pico, ou melhor, até onde achei que era o pico, porque até então não havia cruzado com nenhum surfista. Mas era meio óbvio: o Hotel fica na praia Elands, e na frente tem um beachbreak com ondas pequenas e péssimas, e olhando para a esquerda dava para ver como se fosse um canto de uma mini baia ou um “braço de pedras” onde ondas bem alinhadas deslizavam no horizonte.

Era ali mesmo. Estava frio e ventando, a areia fedia alga e as ondas estavam pequenas. Ninguém no outside e aquele pensamento na cabeça: “o que estou fazendo aqui?”. Olhei um bom tempo e parecia surfável na série apesar de fraco e bem próximo às pedras. Meio desanimado resolvi conhecer uma outra parte do vilarejo que tinha boas casas e fazer o caminho por trás, ou melhor pela estrada. Péssima ideia. Na ida demorei 20 minutos, na volta cerca de 1 hora debaixo de um Sol que resolveu sair debaixo das nuvens. Pelo menos a caminhada aqueceu meu corpo e eu tirei o casaco.

Após esse aquecimento e tomar o café da manhã com bacon, ovos e salsicha e a impossibilidade de se fazer qualquer outra coisa que não fosse ficar no quarto, resolvi que iria surfar. Assim mesmo, meio desmotivado e sem pressa alguma. Entre colocar wetsuit, luvas, botas e gorro e chegar no pico, lá se foi mais 1 hora.

Ao chegar no pico já havia 5 caras por lá e o Sol continuava firme e forte. Enrolei um pouco a entrada no mar porque tinha um surfista entrando e queria ver onde ele entraria para ir atrás. Foi o que fiz, embora com o tamanho que o mar estava, acredito eu que não faria muita diferença. As ondas estavam com meio metro, mas de vez em quando entravam umas séries boas com ondas de 1 metrinho.

Surftrip frio

Surpreendeu. Peguei mais de 10 ondas: algumas morreram, outras fecharam, outras abriram paredes médias, as vezes sem força. Mas peguei 2 ondas da série muito boas, com força, que proporcionaram mais de 5 manobras cada uma e um baita sorriso na minha cara. Valeu a pena. Depois de 1 hora e meia de Surf (acho que foi por ai), acabei tendo que sair do mar porque tive uma cãibra fortíssima na panturrilha.

Me recuperei durante o resto do dia e resolvi não cair no fim de tarde para descansar e também porque ficaria corrido surfar de novo. Comprei chocolates e bastante banana porque dizem que evita cãibras! Amanhã o mar deve subir um pouco e quero fazer 2 quedas! Espero que suba, esse pico com 1,5m a 2m deve ser surreal!

Mais para frente conto mais. Agora vou dormir!

Abraço! Aloha, Caio Elands Siqueira