No pain no gain!

O título do texto significa algo como "sem dor não há recompensa". Não sei se ele reflete bem o relato que farei abaixo, talvez ficaria melhor algo como: sem trampo não há recompensa. Enfim, vou deixar a critério de cada um.

O mês era setembro e eu tinha uma verba curta e pouco tempo de férias para fazer uma Surftrip. Pensei na América Central que tem vários destinos legais e também no Peru, mas estava buscando um local menos crowd, que eu pudesse explorar os picos da região e curtir algo menos comercial.

Com essas características e boas ondas não restou muita coisa, com exceção ao Chile. Mas e o frio? Essa é a pergunta que vem na hora quando se fala em surfar no Chile. Após consulta a alguns amigos que já tinham ido para lá, cheguei a conclusão que bem equipado e com disposição o surf poderia ser prazeroso. Comprei um John 5/4, luvas, gorro e botinhas de neoprene e fui de peito aberto, junto a um amigo, para essa aventura.

Fincamos nossa base em Punta Lobos -que possui uma esquerda super constante, extensa e volumosa- e também porque tem uma infra-estrutura legal- e alugamos um carro para o "the search". Não sei se por sorte ou por azar, Punta Lobos estava temperamental. O swell estava por ali, mas junto a ele tinha uma correnteza absurda que quase não permitia o Surf. Era uma onda surfada até ser expulso do pico e levado até a praia rapidamente. O percurso para voltar ao pico é bem longo, e a entrada no mar super complicada, ainda mais com essa correnteza.

Partimos logo para explorar os picos da região, que já havíamos estudado de antemão. Após algumas tentativas frustradas e muitos quilômetros rodados por péssimas estradas, encontramos um "pico"- que vou aqui chamar somente de "secreto"- que mudou totalmente o panorama da viagem. Passamos a surfar esse pico, todos os dias até o final da viagem. Mas não foi fácil, tampouco não valeu a pena.

Passamos a acordar todos os dias às 4 horas da manhã, com a temperatura em torno dos 8 graus celsius. Dirigíamos o carro por 2 horas, até chegar a uma fazenda no qual o acesso adiante de carro era proibido. Ai começava o treking de quase 2 horas morro abaixo com prancha, comida, água e todas as roupas de borracha. A paisagem era linda, inóspita, selvagem e o sol já ia aquecendo nosso caminho.

Após esse treking inicial, chegávamos a uma praia que tinha umas ondas surfáveis, mas o "Secreto" ainda estava a 40 minutos dali, na praia vizinha. Mais uma subida e descida de morro e pronto, só faltava colocar o John. Pode parecer exagero, mas somente entre comer um negócio, beber água, tirar nossas roupas e colocar o grosso John molhado com todos os aparatos, lá se iam mais uns 40 minutos.

Todo esse esforço era recompensado quando surfávamos excelentes esquerdas sem ninguém por perto, exceto lobos marinhos que apareciam ali no outside para nos fazer companhia. Extasiados, fazíamos o longo caminho de volta -dessa vez com o treking morro acima- e chegávamos em Punta Lobos no final de tarde para as melhores refeições de nossas vidas, embora a comida não fosse das melhores.

Muitos duvidam que todo esse trampo valha a pena para surfar ótimas ondas - que sinceramente falando não eram perfeitas e tubulares, mas abriam muito e eram super fortes e extensas-. Entretanto, desconfio eu, que as ondas eram apenas a cereja do bolo ou o objetivo que nos permitia curtir a experiência. Talvez o que estava em jogo e nos movia em nossa peregrinação era a busca pelo desconhecido, a liberdade, o contato com a natureza e a reflexão e introspecção que a longa jornada proporciona.

No pain no gain. Na vida e no surf!

E por falar em frio e principalmente equipamento de surf para o frio, você já viu os Wetsuits que temos disponíveis no site?